CULTO YORUBÁ

A Cosmogonia Yorubá

Yorubá é um nome reservado aos povos de Oyó, que acabou por cobrir todas as etnias do mesmo tronco, hoje conhecido como de fala yorubá.

O historiador Frobenius (Mythologie de l’Atlantide) afirma ter redescoberto na terra dos yorubás ramificações do desaparecido continente da Atlântida. Segundo ele, os atlantes teriam cruzado o oceano infiltrando-se na África. Já Samuel Johnson (The Story of the Yorubás) situa a origem dos yorubás no Egito Superior ou na Núbia.

Além de a antiga civilização egípcia ser considerada como remanescente da Atlântida, as afinidades entre a religião de òrìşá / ifá e as hoje conhecidas crenças da antiga civilização egípcia só fortalecem esta afinidade.

Dentro da tradição yorubá, a estrutura universal é regida por uma Divindade Suprema, Olódùmarè, origem única e princípio de todos os mundos, que comanda e zela pela sua evolução. Este Ser permeia todos os reinos da manifestação cósmica, desde as maiores galáxias até os ínfimos espaços inter-atômicos.

Olódùmarè, o Deus Supremo, é a razão de estarmos aqui e o motivo pelo qual seguimos sempre adiante para crescermos como seres humanos e para que o nosso “Eu Superior”, nosso “Orí”, tenha a evolução que precisa para continuarmos por toda a eternidade.

O culto Yorubá é um culto monoteísta, pois se baseia na idéia de um Deus Supremo, chamado Olódùmarè que, através do desdobramento quântico de si mesmo, cria um Universo Manifesto, bem como os òrìşá, dando a estes a condição de auxiliadores da humanidade. Os òrìşá são manifestações que Deus criou para nos ajudar a entender cada pedaço do quebra-cabeça da vida.

Olódùmarè é uma energia infinitamente perfeita, e de quem todos os outros seres recebem a existência. Diante do maravilhoso e fantástico espetáculo da Criação, a razão humana é capaz de caminhar até o conhecimento da existência do Criador.

Descrito como aterekaye (aquele que cobre o mundo, fazendo todos sentirem a sua presença) é o detentor do Poder Absoluto e Onipotente.

É a partir desse processo do conhecer que, em nossa religião, afirmamos ser Olódùmarè “o único no céu e na terra, o Supremo sobre todos nós” , "Senhor de todas as coisas", "o Soberano que está no Orun (céu), "Aquele que tem a máxima autoridade sobre tudo e todos".

O Culto Yorubá é uma religião que trabalha com as energias da natureza, que por sua vez, são as energias dos òrìşá e com todo o processo de organização e de utilização dessas energias. Nada é segredo, tudo tem sua resposta, sua explicação e seu por que. Tudo a respeito do Culto Yorubá pode ser explicado, em seu devido tempo e na hora propícia.

Segundo a concepção yorubá, todo o processo de existência se desenvolve no plano físico – o aiye (terra) – e no sobrenatural – o orun (céu) . Tudo o que se manifesta no aiye (terra) tem a sua pré-existência no orun (céu).

Dentro da tradição yorubá, a existência dinâmica se deve à manifestação de uma força que se denomina Aşé. Sem Aşé não haveria possibilidade de existência e realização, pois dele decorre todo o processo vital, como essência e forma.

Aşé é a energia contida numa grande variedade de substâncias representativas dos reinos animal, vegetal e mineral, que se propõe movimentar. Os elementos portadores de Aşé podem ser agrupados em três categorias, chamados “sangues” – porque o sangue é o veículo energético por excelência: Sangue vermelho, Sangue branco e Sangue negro.

O SANGUE VERMELHO COMPREENDE:

No reino animal: – corrimento menstrual, sangue humano ou animal.

No reino vegetal: – azeite de dendê, ossun(pó vegetal vermelho), mel.

No reino mineral: – cobre, bronze, ouro(a cor amarela é uma variedade do vermelho).

O SANGUE BRANCO COMPREENDE:

No reino animal:– o plasma do igbin, o sêmen, a saliva, o hálito, as secreções.

No reino vegetal: o álcool, banha de orí, vinho de palma, seiva.

No reino mineral: efún, sal, prata, chumbo, conchas.

O SANGUE NEGRO COMPREENDE:

No reino animal: – as cinzas dos animais.

No reino vegetal: – o sumo das folhas, o waji.

No reino mineral: – o carvão, o ferro.

Alguns lugares, objetos ou partes do corpo humano podem ser impregnados de Aşé: a língua, o coração, as vísceras, os órgãos genitais, os dentes e ossos, assim como também as raízes, árvores, sementes, as pedras e cristais, os rios, o mar, as florestas e o fogo. A prática da religião yorubá consiste em atuação através da manipulação dos Aşés branco, vermelho e negro.

Segundo os Itans (mitos) do Odú Ejiogbe, corpo da tradição oral que norteia todas as crenças e procedimentos da religião yorubá, Olódùmarè convocou Obàtálá para elaborar o planeta Terra dentro da dimensão física.

Durante a caminhada, Obàtálá encontrou Eşú, que indagou sobre oferendas que deveriam ser feitas para a consecução do trabalho. Obàtálá não deu importância ao fato e, sedento, extrapolou no consumo de bebida alcoólica.

Consequentemente, caiu em sono profundo e foi suplantado por Oduduwa, que, tomando os elementos necessários, saiu para efetuar a tarefa da criação da Terra.

O local onde o trabalho teve início denominou-se Ifé (aquilo que é amplo). Segundo a tradição, daí proveio o nome da cidade sagrada de Ilé Ifé.

Segundo a tradição de alguns clãs yorubás, Oduduwa teria sido um herói proveniente de reinos do oriente que atravessou todo o Egito, chegando ao local aonde viria a ser fundada a cidade de Ilé Ifé. Ali encontrou a população local, os Igbo, cujo rei era Obàtálá. Logo encontrou oposição por parte de Oreluere, ancestral guardião, partidário de Obàtálá. Esta oposição política à investida de Oduduwa fez nascer a Sociedade Secreta Ògbóni(Odú Irosun Iwori), preservadora da justiça e dos ideais implantados nas primeiras instituições da Terra.