OŞORONGÁ

A família na África, no lado feminino, tem a sociedade de mães ou ÌYÀMÍ. Elas são o conselho de mulheres idosas da aldeia, que é composto por iniciadas de Oşun, Yemonjá e Oya, tendo Oşun normalmente como a chefe. O conselho de anciãs adoram o espírito do ar, que é uma força masculina expansiva e que tem como seu mensageiro: o pássaro. O conselho masculino adora a Mãe Terra, e este conselho é chamado Ògbóni significa a sabedoria da terra. Ògbóni é a adoração de todo Irunmolé e como eles estão ligados entre si através do útero da Deusa Terra. Quando se pronuncia o nome de ÌYÀMÍ OŞORONGÁ quem estiver sentado deve se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois esse é um temível Òríşá, a quem se deve respeito completo.

O pássaro africano, OŞORONGÁ, emite um som onomatopaico de onde provém seu nome, e é o símbolo do Òríşá ÌYÀMÍ. ÌYÀMÍ OŞORONGÁ é a dona da barriga e não há quem resista aos seus ebós fatais. Com ÌYÀMÍ OŞORONGÁ todo cuidado é pouco, ela exige o máximo respeito. ÌYÀMÍ OŞORONGÁ, (bruxa é pássaro). Sobretudo à noite, é o momento que todo espaço pertence à Eleye, que são as Ajé, transformadas em pássaros do mal, como Agbibgó, Elùlú, Atioro, Oşorongá, dentre outros, nos quais se transforma a Ajé-mãe, mais conhecida por ÌYÀMÍ OŞORONGÁ. Trazidas ao mundo pelo odu Osá Meji, as Ajé, juntamente com o odu Oyeku Meji, formam o grande perigo da noite.

ÌYÀMÍ OŞORONGÁ é a síntese do poder feminino, claramente manifestado na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o mundo.

Donas de um aşé tão poderoso quanto o de qualquer Òríşá, as ÌYÀMÍ tiveram seu culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes homenageadas do famoso festival GUÈLÉDÉ, na Nigéria, realizado entre os meses de março e maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo imediatamente para um culto relacionado à fertilidade.

Pelo poder procriador, tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros, e sua fama de grandes feiticeiras, as associou à escuridão da noite; por isso também são chamadas de Eleye e as corujas são seus maiores símbolos.

A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que mais aproxima a mulher da natureza. Toda mulher é poderosa porque guarda um pouco da essência das ÌYÀMÍ; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais femininos, sempre assustou os homens e as cantigas entoadas durante o festival GUÈLÉDÉ, fazem alusão a esse poder, que não pertence apenas às ÌYÀMÍ, mas a qualquer mulher.

Em síntese, todo ser humano deve a vida a uma mulher. Se todas as mulheres juntas decidissem não mais engravidar, a humanidade estaria fadada a desaparecer. Esse é o poder de ÌYÀMÍ: mostrar que todas as mulheres juntas decidem sobre o destino dos homens.

As feiticeiras mais temidas entre os Yorubás são as Ajé e, para referir-se a elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleye, Dona do Pássaro. O aspecto mais aterrorizante das ÌYÀMÍ e o seu principal nome, com o qual se tornou conhecida nos Ilés, é OŞORONGÁ, uma bruxa terrível que se transforma no pássaro de mesmo nome e rompe a escuridão da noite com seu grito assustador.

As ÌYÀMÍ são as senhoras da vida. Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas em seu aspecto benfazejo, são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse caso lançam todo tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte.

Segundo os itans, ÌYÀMÍ OŞORONGÁ possui o poder de transformar-se em pássaro tornando-se Eleye que são as Ajé. Mulheres pássaros, senhoras da noite, voam de um lado para o outro levando encantamentos, dores, doenças, misérias, rancor e morte. Ao ouvir seu temido canto todo ser humano deve proteger-se e agradá-la, pois sua ira é fatal.

Na cosmogonia Yorubana a cabaça possui um significado ligado à união do Orun (céu) com Aiye (terra), é o útero-receptáculo que recebe a fusão do ovo feminino e do esperma masculino. Notamos que a forma da cabaça lembra o órgão sexual masculino em sua parte externa, e o útero em sua forma interna e possui sementes que corresponderiam aos ovos.

Orúnmilá ficou muito magoado com Oşun, porque ela requisitou o poder do jogo, e percebeu quão perigosas são as mulheres. Queixando-se a Eşú, resolveu engendrar um plano para acabar com a supremacia feminina. O Senhor do destino reuniu os homens e junto a Eşú desestabilizaria a união feminina através da vaidade, qualidade própria das mulheres, levando-as a competirem umas com as outras. Os planos de Orúnmilá e Eşú se concretizaram de forma rápida e eficiente e as mulheres foram, aos poucos, relegadas a uma posição inferior, assim, antes que percebessem, estavam totalmente submetidas ao poder masculino.

Os planos de Orúnmilá e Eşú teriam dado certo se não fosse por Obá, a virgem guerreira, tímida e solitária por natureza, foi a primeira Òríşá a dar-se conta do que estava acontecendo. Pretendendo reassumir o papel da mulher na comunidade criou uma sociedade chamada Ogbé Guèlédé, na qual apenas as mulheres seriam aceitas. Ao participarem dessas reuniões as mulheres usariam máscaras para não serem reconhecidas e deixariam seus seios expostos, para que nenhum homem se infiltrasse durante as reuniões. Yemonjá, Oya, Nanã, Euá e Oşun eram presenças constantes nesse culto que adorava ÌYÀMÍ OŞORONGÁ. Eşú que está sempre bem informado escondeu-se na floresta para vigiar as mulheres, quando percebeu Oluwo, o pássaro das ajé: Foi a primeira vez que Eşú sentiu medo. Podemos perceber na descrição de Oluwo, um imenso urubu, uma das formas que Oşun pode assumir conforme o mito. A sociedade Guèlédé é vista no odu Ìrété Méjì. Eşú, após assistir tenebrosa aparição, correu até Orúnmìlà para contar o que vira. Ambos resolvem criar outra forma para desestruturar a sociedade feminina. Şangô tendo consumado o combinado levou para Oyó, Obá e Oya. O rei de Oyó envia uma mensagem, através de Eşú, para Orúnmìlà enviar Oşun. Orúnmilá envia Oşun, sua esposa, e decide: “hoje mesmo sairei pelo mundo em busca de meu próprio destino. Sem rumo, sem direção, ensinando aos homens os segredos de Ifá.“ Obàtálá assumiu a liderança masculina devido o afastamento de Orúnmìlà. O plano para desunir as líderes Guèlédé dera certo e a liderança feminina perdera sua última líder, fazendo com que a mulher voltasse novamente a ser submissa aos homens.

IYAMI

"... a Sociedade Guèlédé, a partir de então, teve que se submeter à adesão masculina para poder subsistir. Ainda assim, o comando das mulheres ficou definitivamente estabelecido. Somente elas possuem os poderes e os segredos de ajé, devendo, por isso, serem tratadas com grande respeito e consideração. Depois disso os homens, para participarem da sociedade, teriam de usar as máscaras Guèlédé, e sua participação ficaria restrita a dançar e a tocar os tambores do ritual(os Oşos). O objetivo da sociedade, que antes era exacerbar a maldade existente no poder feiticeiro de ÌYÀMÍ, modificou-se desde aí, e as danças, os cânticos e as oferendas feitas em sua homenagem, visam hoje, a aplacar a sua cólera ao em vez de incentivá-la."

No país Yorubá, as atividades das feiticeiras – Àjé – estão ligadas às das divindades, Òríşá, e aos mitos da criação do mundo. As Àjé não são banidas da sociedade da qual são um dos pilares essenciais, porém evita-se maldizê-las abertamente, pois se acredita que possuam uma força agressiva e perigosa.

Existiriam também feiticeiros entre os homens, os Oşó (Lê-se Oxô), mas seriam infinitamente menos violentos e cruéis que as Àjé.

Elas escolhem entre si, uma Ìyálóde(Erelú/Ògbóni), a que dirige as mulheres em uma aldeia Yorubá. A Ìyálóde coloca o pássaro dentro da cabaça, a cobre e a entrega a mulher que quer obter o poder de Àjé. Este pássaro é enviado em missão, cada vez que a Àjé quiser combater alguém.